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20150326

Por que ainda não temos carros voadores?

A fantasia em torno de carros voadores vem cativando a humanidade há décadas, incentivada por histórias em quadrinhos, livros de ficção científica, programas de TV e filmes.

Nos anos 1960, o desenho animado Os Jetsons tinha como cenário uma utopia futurista chamada Orbit City, onde moradores viviam em torres e se deslocavam em carros voadores. Esses veículos tinham uma capota de vidro em forma de bolha, um aspecto que também apareceria nos salões de automóvel de Detroit naquela época.

Na década de 1970, a Landspeeder X-34 de Luke Skywalker também apostava no visual de bolha. Nos anos 1980, os spinners do filme Blade Runner, O Caçador de Andróides foram desenhados pelo renomado ilustrador e futurista Sy Mead, que teria se irritado profundamente quando viu que suas fantásticas criações foram usadas em tons sombrios nas telas.

Em 2004, Peter Stevens foi convidado por Gerry Anderson, criador dos seriados de TV britânicos Thunderbirds e Espaço 1999, para desenhar uma nova versão do carro Spectrum Cheetah para o remake de Captain Scarlet. Não deveria ser uma máquina voadora clássica, mas sim um modelo que pudesse, por um curto período de tempo, decolar do chão para desviar de outros veículos e de obstáculos.
No passado, apenas os mocinhos possuíam carros voadores. Mas na série de quadrinhos Incognito, lançada pela Marvel em 2008, os vilões também tinham os seus, que eram inspirados em um Jaguar XKR.

Mas voltemos à realidade dos carros voadores. Será que os designers e engenheiros – e, de fato, toda a indústria automotiva – realmente descumpriram uma promessa feita aos indivíduos mais sonhadores?
A idéia de encher os céus com máquinas pilotadas por qualquer pessoa é bastante amedrontadora.
Não se pode negar que houve tentativas corajosas. Em 1947, um ConvairCar Model 118, desenhado por Theodore P. Hall para a Consolidated Vultee, de San Diego, foi fotografado durante um teste de voo, mas nunca chegou a ser produzido em série.
O problema era essencialmente uma questão de peso: nas pistas, a “metade avião” do veículo enfrentava uma enorme resistência do ar; no céu, a “metade sedã” dificultava as manobras.

Mas isso não desanimou a Terrafugia, uma empresa sediada hoje no Estado de Massachusetts: em um salão aeronáutico em Oshkosh, no Wisconsin, em março de 2013, a marca exibiu o protótipo de seu carro voador, o Transition.
Mas a realidade de colocar um carro para voar nunca parece tão bacana quando os protótipos são apresentados.
A exceção é, provavelmente, o Aerocar, dos anos 1960: uma maquininha simples e bonita que encolhia as asas ou simplesmente as deixava na garagem.
O modelo parecia tão convincente que até alguns planos originais para a construção do sistema de rodovias interestaduais americanas levavam em consideração acomodar carros voadores, os primeiros rascunhos mostravam uma pista de decolagem ao lado da estrada.
Ainda assim, o apelo de ser o pioneiro continua sendo muito grande para qualquer montadora. Dizem que os engenheiros da Toyota estariam elaborando um carro que não exatamente voaria, mas seria capaz de flutuar a poucos centímetros do solo, reduzindo o atrito e economizando combustível.
Enquanto isso, a Volkswagen da China fez uma pesquisa em 2012 para tentar descobrir quais veículos seus clientes gostariam de dirigir no futuro. Novamente, o carro voador foi à sugestão mais popular.
A Volkswagen propôs uma cápsula de dois assentos com levitação magnética, inspirada no trem Mag-Lev que liga o centro de Xangai ao aeroporto. Assim como o projeto da Toyota, o objetivo é reduzir o atrito para melhorar a eficiência energética.
Então, onde está o carro voador que nos foi prometido pela ficção há tantas décadas? Bem, ele está aqui na forma do Terrafugia, apesar de ser um modelo caro e pouco prático.
Um dia, quem sabe, as estrelas vão se alinhar e permitir que um carro voador viável e elegante comece a ser produzido, abrindo caminho para um novo meio de transporte.

Texto de Peter Stevens - é designer de carros e já trabalhou com marcas como McLaren, Lotus e Williams. Ele escreve mensalmente para a BBC Autos.

Leia a versão original desta reportagem em inglês no site BBC Autos.

Post (035) - Março de 2015