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20150618

O DC-4 e uma curiosa história da Aviação - 1949

Uma história interessante e provavelmente desconhecida pela maioria das pessoas.  No final da tarde de 23 de novembro de 1949, um Douglas DC-4 Americano pousa na cidade paranaense de Paranavaí, um acontecimento notável, que nunca será esquecido.

A população ouviu os motores de um grande avião sobrevoando a cidade. O aeroporto de Paranavaí, na época, era uma pequena faixa de grama, utilizável apenas durante o dia, e nenhum voo era esperado àquela hora.

Observando uma aeronave circulando várias vezes a cidade, os moradores perceberam que talvez a aeronave estivesse com problemas, e precisasse fazer um pouso de emergência. Algumas pessoas tomaram a iniciativa de levar os carros e caminhões para o aeroporto, e sinalizá-la com o uso dos faróis dos veículos, rapidamente a pista ficou cercada por faróis acesos, que a demarcaram com bastante precisão.

O piloto, vendo as luzes, imediatamente rumou para a pista gramada e fez um pouso perfeito. O povo de Paranavaí, um simples e pequeno distrito de Mandaguari, nunca tinha visto um avião tão grande, e ficou impressionado. Era um quadrimotor Douglas DC-4. As pessoas se perguntavam: de onde teria vindo essa aeronave, e qual seria o seu destino?

As portas do avião se abriram e um tripulante apareceu, perguntando: Isso aqui é Brasil? Uma pessoa no meio da multidão respondeu gritando: Não, isso aqui é Paranavaí! Logo, os ocupantes do DC-4 estavam descendo do avião: eram 8 tripulantes norte-americanos e 74 passageiros mongóis. O comandante do avião esclareceu: Seu voo era uma missão da ONU, e trazia da Mongólia passageiros que eram refugiados da ofensiva comunista chinesa, que então invadia aquele país. Seu destino era Assuncion, no Paraguai, iriam encontrar asilo político e começar uma nova vida.

Todavia, o avião encontrou péssimas condições atmosféricas antes de chegar ao seu destino. Tentou traçar uma rota para o Rio de Janeiro, sua primeira alternativa, ficando com pouco combustível, começou a procurar um campo de pouso e acabou sobrevoando Paranavaí, onde a população salvou a situação.

A aeronave era da companhia americana Transocean Air Lines, batizada de "Taloa Guam".

Essa etapa do voo tinha começado em Lima, no Peru. A empresa tinha sido contratada pela ONU para trazer refugiados chineses e mongóis para as Américas do Norte e do Sul, atravessando o Oceano Pacífico.

O comandante Rogers e seu navegador, John Roenninger, examinaram as cartas e chegaram à conclusão que deveriam estar em um lugar denominado "Lovatt". Não havia nenhum "Lovatt" nas cartas, mas o nome foi logo reconhecido pelos moradores, era a antiga denominação de Mandaguari, que tinha sido mudado durante a Segunda Guerra Mundial por alguma autoridade do governo, que acharam que Lovat pudesse ser um nome alemão. Na verdade, Lovat era o nome de um Lorde inglês, dono da empresa colonizadora do norte do Paraná, um aliado, e não um "inimigo".

Paranavaí era uma pequena cidade de 10 mil habitantes, e não havia hotéis suficientes. O médico Otávio Marques de Siqueira logo ofereceu uma solução: acomodou todos no Hospital do Estado, do qual era diretor. Nenhum dos mongóis falava Inglês, e muito menos Português. Mas isso não impediu que as pessoas fossem bem acolhidas e assistidas na cidade.


O grande avião ficou cinco dias estacionado no aeroporto, atraindo curiosos de toda região. A FAB despachou para Paranavaí uma equipe para atender o caso. A aeronave estava intacta, e só precisaria ser abastecida para prosseguir viagem. Todavia, a pista curta e gramada não permitiria a decolagem segura de uma aeronave tão pesada. Os tanques tinham só 250 galões de gasolina, o que daria para alcançar o aeroporto de Mandaguari, sede do município, onde a pista era bem melhor e pavimentada.
A tripulação então tomou a providência de aliviar o peso do avião, enviando todos os passageiros e suas bagagens de ônibus para Mandaguari. Removeram algumas poltronas e também as enviaram de caminhão.

A decolagem não apresentou dificuldades. Os tripulantes nunca viram um DC-4 acelerar e subir tão rápido, pois estavam acostumados a decolar com o avião carregado.
Em Mandaguari, a história se espalhou, e quase toda a população se apinhou no aeroporto, para aguardar a chegada do avião. Embora Mandaguari já fosse atendida por aeronaves comerciais Douglas DC-3, quase ninguém tinha visto um quadrimotor. O aeroporto parecia uma festa, com carrinhos de pipoca e algodão doce. Muita gente chegou ao local na carroceria de caminhões, e a cidade ficou quase deserta, todo mundo estava no aeroporto.



A chegada do DC-4 em Mandaguari causou outra situação embaraçosa. Por essa época corriam boatos de que Hitler estaria vivo e morando em algum lugar da América do Sul. A chegado do DC-4 a Mandaguari provocou um alvoroço na colônia alemã na região, que foi ao aeroporto vestida a rigor, e convidou a tripulação para um grande banquete, para tentar saber se o voo tinha alguma coisa a ver com Hitler. A decepção foi evidente.

Logo a tripulação e os mongóis embarcaram, e a aeronave foi abastecida com 1.000 galões de gasolina cedidos pela FAB, decolando com segurança para Curitiba, onde foi completamente abastecida, e de lá completou a viagem para Assunción. Esse episódio foi o acontecimento do ano em Paranavaí e Mandaguari.

Fontes:
Transocean Air Lines (http://www.taloa.org);
Arue Szura (Folded Wings: Histoy of Transocean Airlines);
Jorge Ferreira Estrada (Terra Crua, 1961);
Diva Carmona (testemunha ocular em Mandaguari);
David Arioch (davidarioch.worldpress.com) e
Jornal Paraná Norte (Londrina, 1949).


Post (090) - Junho de 2015