Jantares servidos em fina porcelana, vinho em taças de cristal, homens
trajando ternos de corte impecável, mulheres em belíssimos vestidos. Cenas hoje
restritas aos salões podiam ser presenciadas em viagens aéreas, entre os anos
1960 e 1980, quando viajar de avião não era apenas decolar e ir até um determinado destino, mas um evento requintado pelo qual somente alguns podiam
pagar.
Algumas empresas aéreas brasileiras, na época, forneciam aos passageiros
toalhas umedecidas para lavar as mãos, poltronas largas e espaço maior entre os
assentos, proporcionando mais conforto aos seus clientes.
A Varig, uma das empresas aéreas pioneiras no Brasil, servia caviar para
a primeira classe e, mesmo na classe econômica, as refeições eram servidas em
pratos de porcelana e talheres de metal, e ao fim da refeição, um café com
chocolate suíço. Em 1979, a Varig recebeu da revista americana Air Transport
World o prêmio de melhor serviço de bordo. Esse serviço começou a ser prestado
quando a Varig passou a operar a rota Brasil e Estados Unidos, estabelecendo um
padrão de alta qualidade no atendimento.
Empresas como Transbrasil e Vasp também ofereciam serviço de bordo de
qualidade. A Transbrasil, entre os anos 1980 e 1990, oferecia feijoada em seu
cardápio, enquanto a Vasp, na ponte aérea entre Rio e São Paulo, servia canapés
de entrada, antes das refeições quentes que eram acompanhadas de vinho, refrigerante
e suco natural.
Nesse período, também era alvo de preocupação das empresas aéreas, no
Brasil, a apresentação pessoal dos comissários e comissárias de bordo,
especialmente no que se refere aos uniformes, que seguiam as tendências de moda
e eram complementados por luvas e echarpes.
Para ser membro da tripulação, o candidato passava por uma rigorosa
seleção. O seu peso corporal tinha que ser proporcional à sua altura, e a
arcada dentária tinha um padrão predeterminado. A própria empresa realizava o
treinamento e ministrava cursos sobre sua história, para capacitar os futuros
empregados. Aviões de grande porte chegavam a contar com
15 comissários de bordo, além de seis profissionais na cabine de comando.
Entretanto, esses serviços geravam custos elevados que passaram a causar
prejuízos, fazendo algumas empresas aéreas optarem pela retirada das refeições
requintadas e bebidas alcoólicas, servindo apenas água, suco e refrigerante,
com biscoitos, amendoins ou sanduíches, nos voos de curta distância. Nos voos
com duração de 2 a 3 horas, as empresas optaram por servir um salgado assado,
bolinho e pão de queijo.
Ainda para diminuir o custo do voo, foi reduzido o espaço entre as
poltronas, o que permitiu acrescentar mais duas fileiras, aumentando o número
de passageiros. Atualmente algumas companhias servem o básico, como água.
Se o passageiro quiser algo para comer, deve solicitar antes de seu embarque e
pagar pelo alimento ou bebida.
Hoje, espremer-se entre as poltronas e pagar
por um lanche frio com suco de caixinha, são hábitos que fazem parte do
cotidiano de quem viaja de avião, especialmente nos voos domésticos. Quase nada
lembra as poltronas largas, as refeições completas e os mimos como as caixas de
chocolate suíço e os vidrinhos de perfume francês que já fizeram parte da realidade dos passageiros.
Isso definitivamente acabou com o glamour das viagens aéreas.
Texto de Luiz Claudio Ribeiro
Post (115) – Julho de 2015