20170224

O Electra II e a Ponte Aérea Rio-São Paulo

✈ Lockheed L-188 Electra é um avião comercial de médio porte, turboélice  de fabricação norte-americana projetado e construído pela Lockheed. Foi o primeiro avião turboélice comercial construído nos Estados Unidos.  Voou pela primeira vez em 1974 e foi o mais famoso avião que operou na Ponte Aérea Rio-São Paulo.

Bastava à chamada para embarque acabar e os funcionários abrirem os portões para uma competição digna de atletismo começar: os passageiros saíam em disparada pelas pistas de Congonhas e Santos Dumont em busca dos melhores lugares no Electra.


Nem todos corriam, mas havia quem disputasse um lugar no conhecido lounge, uma espécie de saleta no fundo do turboélice que era o local ideal para executivos viajarem em fim de expediente na volta para sua cidade de origem.

Hoje, a ligação entre as duas mais importantes cidades do Brasil não lembra nem de longe esse período tão peculiar. Os passageiros desfrutavam de um serviço de bordo com direito a itens sofisticados como champanhe e uísque, bem diferente das barrinhas de cereais e água dos voos atuais.

Foi à época do Electra II, um turboélice quadrimotor de som inconfundível que dominou a ponte durante 16 anos até ser a sua aposentadoria em 1992.

Os voos entre o Rio de Janeiro e São Paulo começaram nos primórdios da aviação comercial brasileira, logo após a Segunda Guerra, quando a oferta de aviões era grande.
A ligação se transformou na conhecida ‘Ponte Aérea’ apenas em 1959, de forma improvisada quando os gerentes das companhias Varig, Vasp e Cruzeiro decidiram coordenar seus voos entre os aeroportos de forma a não se sobreporem e perderem passageiros para a companhia aérea mais agressiva da época, a Real Aerovias.
Electra era capaz de levar 90 passageiros com conforto
para os padrões da época


As três companhias deixaram de exigir endossos nas passagens e, com isso, ficou fácil para o passageiro embarcar em qualquer um de seus voos. Não demorou que a direção da Varig, Vasp e Cruzeiro adotassem a prática de forma oficial.
Com a incorporação da Real pela Varig, aos poucos, o serviço foi ganhando mais padrão.

Congonhas na década de 60: ponte aérea era feita com vários tipos de aviões
No início, os voos eram realizados por uma variedade de aviões, de modelos a pistão de pequeno porte a de grande porte a turboélices de origens diversas. Aos poucos a Ponte Aérea foi se consolidando, dominada pela Varig, que em 1975 também assumiu a Cruzeiro.
Nesse mesmo ano, o DAC decidiu obrigar o uso de turboélices no trecho, o que limitou o serviço ao Electra e ao Samurai, um aparelho de origem japonesa.
Samurai da VASP
Mas um acidente com esse avião antecipou sua aposentadoria, que operava desde 1962, o Electra passava então a ser o único avião usado na ponte.

Na década 70, os aviões Electra da Varig, chegaram a uma frota de 14 aeronaves.

A idade avançada e o crescimento dos voos no país começaram a pesar para o velho avião. Na década de 80, a Boeing tentou provar que uma nova versão do jato 737 era capaz de operar no Santos Dumont, porem a pista com 1.300 metros era considerada curta demais para ele.

A mudança era pleiteada pela Vasp e Transbrasil. A Varig, no entanto, relutou até onde pôde, mas no início da década de 1990, graças a uma nova tecnologia de pavimentação de pistas, o aeroporto Santos Dumont passou a ter condições de operar jatos com segurança, Congonhas com pista maior não apresentava restrições.

Antes disso, em 1989, a empresa regional TAM, iniciou um serviço alternativo ao pool, batizado de Super Ponte, com turboélices Fokker F-27. Apesar de serem mais lentos e desconfortáveis, eles ofereciam um serviço de bordo caprichado e a possibilidade de reserva de assento.

Em 1992, a era do Electra encerrou. A Vasp e Varig passaram a voar com aviões Boeing 737-300, seguidas pela Transbrasil. A TAM veio com o Fokker 100, um jato moderno e fácil de operar, para competir no trecho.
Fokker 10

A volta da competitividade melhorou o serviço, mas vitimou as companhias mais antigas, cujas gestões eram mais engessadas e lentas. Com o tempo, Vasp, Transbrasil e, por último, a Varig deram adeus ao “filé mignon” do mercado de aviação brasileiro. Em seu lugar, a TAM e a novata Gol assumiram a rota mais movimentada do país, mas em vez do charme, hoje quem voa entre o Rio de Janeiro e São Paulo já não corre pela pista nem tem uma experiência tão única que virou tema de músicas e muitas histórias.




Nos seus 30 anos em serviço, a frota de 14 aeronaves da Varig voou nada menos que 777.140 horas, ou o equivalente a 88.7 anos sem sofrer nenhum acidente fatal! Neste período, foram nada menos que 736.806 pousos, numa média de 55.510 horas de vôo por aeronave e 52.629 ciclos por avião. Isto dá em média 4,93 pousos por dia, durante todos os 10.675 dias deste longo período.

✈ Características principais do Electra II:
Tipo: Monoplano quadrimotor de asa baixa, de construção totalmente metálica, para transporte de passageiros em curtas distâncias;
Grupo moto propulsor: 4 motores turboélice Allison 501-d13A de 3.750 ESHP cada, equipados com hélices quadripás Aeroproducts A6 641FN-606;
Envergadura: 30,18 m;
Comprimento: 31,85 m;
Altura: 10,00 m;
Peso Vazio: 26.036 kg;
Peso Máximo de decolagem: 51.256 kg;
Velocidade máxima: 721 km/h;
Teto de serviço: 8.655 m;
Autonomia: 4.500 km;
Distância de decolagem: 1,438 m (com peso de 51.256 kg);
Capacidade de passageiros: 65 a 100 pessoas.

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Post (287) - Fevereiro de 2017