Com a chegada dos aeromodelos elétricos e o baixo custo dos equipamentos, a
criatividade tomou conta e as pessoas “criaram” cada vez mais modelos
inusitados: placas de sinalização de trânsito, super-heróis, animais, bruxas e
tudo o que sua imaginação permitir começou a cruzar os ares. Com isso,
surgiu uma frase que certamente já ouviram falar pelo menos uma vez: “Qualquer
coisa voa, basta ter CG (Centro de gravidade) e potência”.
Em muitos casos esta frase vem acompanhada com uma risadinha, ou em forma de
piada. Porém, é preciso ter cuidado, pois esconde uma idéia equivocada de que,
para um avião voar, basta estes dois fatores. É obvio que, com CG no
lugar correto e potência de sobra, até uma “privada” voa. Mas isso será que
isso basta?
Um aeromodelo geralmente é projetado, envolve engenharia, cálculos e vários
cuidados para que ele voe conforme o que foi previsto.
Existem inúmeras variáveis em um aeromodelo, e isso não envolve apenas peso,
envergadura e potência do motor. Você certamente já ouviu falar de velocidade
de estol (velocidade mínima para voar), e o tal do pitch speed? Ao multiplicar
o passo da hélice pelo RPM do motor, temos a “velocidade da hélice”, o “pitch
speed”. Percebe-se assim que, para o aeromodelo sair do chão, é preciso
considerar a hélice, motor e a velocidade de estol. Hipoteticamente, você
poderia até colocar um mega motor, mas uma hélice inadequada e não atingiria a
velocidade necessária para o modelo voar.
Aviões do “SAE Aero Design” conseguem levar até 12 kg de carga útil com um motor glow. 61
O perfil da asa também influencia diretamente o desempenho, assim como o passo
da hélice e a carga alar. Uma asa com perfil Clark Y terá um desempenho bem
diferente de uma com perfil NACA 2412, ainda que ambas possuam a mesma corda e
envergadura. O perfil da asa é uma das variáveis utilizadas não só para
se encontrar a velocidade de estol de um modelo, mas também por suas
características de voo.
Ainda sobre asa e motor, por exemplo: dois motores que agüentam puxar 1 kg, mas
diferentes nos “KVs”, podem ser, um destinado a velocidade com alta rotação, e
o outro destinado a torque com alta força. Um biplano exige torque, não
velocidade. Já um aeromodelo de corrida exige muita velocidade e um Kv
enorme. Um biplano de 1 kg não utiliza o mesmo motor que um monoplano de 1kg.
Certamente você dirá: mas lógico, tem duas asas! Ok, se eu tenho um biplano da
I guerra e um Ultimate (acrobático) com a mesma envergadura e peso, será o
mesmo motor funciona para aos dois? Voar, talvez voem, mas não atingirão o seu
desempenho máximo.
Muitos daqueles modelos “exóticos” até voam, mas geralmente são instáveis e seu
voo é restrito. Voar, qualquer coisa com CG e potencia voa, já voar como foi
planejado e atingir sua eficiência, como visto exige muito mais.
Texto de Wagner de Barros (resumido) veja o texto
original em:
Post (067) – Maio de 2015